Comunicação de Aparência: Quando as assessoria de imprensa viram agências de Influênciadores
- Paulo Henrique Borges
- 21 de jul.
- 2 min de leitura
Enquanto rádios, portais e TVs locais lutam para sobreviver, assessores ignoram o jornalismo profissional e correm atrás de influenciadores com engajamento superficial. A comunicação virou espetáculo — e o jornalismo sério paga o preço.

Nos bastidores de grandes coberturas jornalistica, shows e eventos, há um ruído cada vez mais audível – e incômodo. Enquanto influenciadores digitais ganham espaço e preferência nas estratégias de divulgação, pequenos veículos de imprensa, como rádios comunitárias, portais regionais e TVs de interior, são cada vez mais deixados de lado por assessorias de imprensa que parecem esquecer a essência do próprio ofício: construir pontes com a mídia.
É uma inversão preocupante. A mídia tradicional, que por décadas sustentou a credibilidade da informação, hoje assiste a uma corrida desenfreada por likes, engajamento instantâneo e métricas superficiais. Os releases que antes eram distribuídos democraticamente agora miram apenas nas vitrines mais iluminadas — ainda que essas vitrines, muitas vezes, não possuam a profundidade jornalística necessária para dar contexto, questionar ou analisar.
O resultado? Uma rede de comunicação capenga, onde o conteúdo qualificado, produzido com critério por repórteres, redatores e editores de veículos menores, é constantemente preterido por publiposts em perfis pessoais. Enquanto isso, o público é soterrado por campanhas esvaziadas de sentido e recheadas de frases de efeito.
A raiz do problema é mais profunda do que aparenta. Tanto assessores de imprensa quanto repórteres vivem sob constante pressão. O assessor precisa entregar resultados ao cliente, provar que garantiu visibilidade. Do outro lado, o repórter está às voltas com a pauta que precisa entrar no ar, a página que precisa ser fechada, o tempo que escorre entre um deadline e outro. Ambos carregam sobre os ombros a ansiedade de seus superiores. Ambos querem (e precisam) fazer seu trabalho com excelência.
Mas há um ponto essencial que parece ter sido esquecido por muitos nesse jogo de interesses: a empatia. Aquela velha dica de ouro que, por mais repetida que seja, ainda é ignorada. Respeitar o colega do outro lado do balcão é mais do que uma boa prática — é sobrevivência profissional. Hoje assessor, amanhã redator. Hoje editor, amanhã analista de comunicação. O banquinho muda. E muda rápido.

Ignorar os pequenos veículos é desprezar a capilaridade da notícia. É fechar os olhos para o impacto local da informação. É assumir que apenas os grandes veículos importa — o que, sabemos, não é verdade. A imprensa regional não só forma opinião como registra a história viva dos lugares onde atua. Quando uma assessoria deixa de responder a um veículo pequeno, ela não apenas perde uma oportunidade de divulgação, mas também contribui para o apagamento gradual da diversidade de vozes no jornalismo.
Não se trata de rivalizar influenciadores e jornalistas. Ambos têm papéis distintos no ecossistema da comunicação. Mas é preciso lembrar que curtidas não substituem apuração, nem stories têm o peso de uma matéria assinada. O jornalismo, mesmo o de menor alcance, carrega responsabilidades que vão além da estética e do engajamento: ele presta contas com a sociedade.
Em tempos de desinformação e narrativas moldadas por interesses, valorizar a imprensa — toda ela, grande ou pequena — é um ato de compromisso ético. E isso começa por onde muitos têm falhado: o simples ato de atender, responder e considerar.






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